Dólar atinge novo recorde histórico e fecha a R$ 5,99 após anúncio de pacote fiscal e isenção do IR; bolsa cai
O dólar fechou com alta significativa nesta quinta-feira (28), após ultrapassar pela primeira vez a marca de R$ 6, impulsionado pela reação negativa do mercado ao anúncio do pacote fiscal e da isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil. O dólar à vista encerrou o dia com um aumento de 1,30%, cotado a R$ 5,9910 na venda, o maior valor nominal de fechamento já registrado. Por volta das 17h, o Ibovespa apresentava queda de 1,76%, aos 125.423,15 pontos.
O dia foi marcado pela ausência das bolsas de Wall Street, que estão fechadas devido ao feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos.
Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Rui Costa (Casa Civil) apresentaram os detalhes das medidas anunciadas no dia anterior. Também participaram do evento os ministros Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), com a apresentação ocorrendo no Palácio do Planalto.
Haddad divulgou na noite de quarta-feira (27) um conjunto esperado de medidas para o controle de gastos, incluindo uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês. O ministro estimou um impacto fiscal de R$ 35 bilhões com a isenção, abaixo da previsão de analistas, que esperavam um valor mínimo de R$ 45 bilhões. A medida, que ainda depende de aprovação no Congresso, deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026.
Durante a apresentação, Haddad destacou que a reforma tributária busca “neutralidade tributária”, ou seja, não tem como objetivo aumentar ou diminuir a arrecadação, mas sim buscar eficiência e justiça tributária.
Pacote fiscal
O governo também detalhou seu pacote de ajuste fiscal. As propostas de Haddad preveem uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, com o ministro afirmando que elas “consolidam o compromisso do governo com a sustentabilidade fiscal do país”.
As propostas de corte de gastos foram divididas em seis frentes:
- Limitação do aumento do salário mínimo dentro do novo arcabouço fiscal (limitado a 2,5% acima da inflação).
- Correção do limite de acesso ao abono salarial pela inflação, até que o teto caia para um salário mínimo e meio.
- Alterações nas aposentadorias militares, com definição de idade mínima para reserva e restrição na transferência de pensões.
- Aplicação do teto constitucional aos agentes públicos, o que eliminaria os chamados “supersalários”.
- Aumento das emendas globais dentro do arcabouço fiscal, com 50% das emendas de comissão destinadas à saúde.
- Aperfeiçoamento dos mecanismos de controle de fraudes e distorções, especialmente no BPC (antiga aposentadoria por invalidez).
Essas medidas ainda precisam ser votadas e aprovadas pelo Congresso Nacional. O ministro da Fazenda expressou “esperança” de que as propostas sejam aprovadas ainda este ano, apesar do calendário apertado e de outras pautas pendentes.
O pacote gerou críticas do mercado devido à falta de medidas mais audaciosas de corte de gastos e pela apresentação conjunta de mudanças na tabela do Imposto de Renda. A analista do CNN Money, Solange Srour, apontou que o pacote carece de ousadia. Para ela, embora as medidas possam resultar em um crescimento mais moderado das despesas, elas não serão suficientes para atender ao novo arcabouço fiscal proposto.
Na mesma linha, o analista Tony Volpon, também do CNN Money, criticou a apresentação de Haddad, classificando-a mais como “um vídeo de campanha” do que como um anúncio concreto de medidas econômicas. Para Volpon, a forma como o pacote foi divulgado sugere que o governo, fora da equipe econômica, não compreendeu a importância de vender essas medidas como positivas.
Fonte: CNN