Esta semana, na região norte fluminense, ganhou destaque a presença do Governador Cláudio Castro e do Presidente da ALERJ, Rodrigo Bacellar, que em caravana, lançaram pedras fundamentais, revisitaram obras, enfim, cumpriram uma agenda pública intensa, em diversas cidades.

Até aí tudo certo, o Governador tem entre suas demandas políticas a presença perene por todo Estado, principalmente para se manter ativo no jogo da própria sucessão.

O problema é o “timing”.

Uma caravana dessas requer um consenso entre as forças visitadas (prefeitos) e visitantes (forças estaduais), principalmente para afastar saias justas com os prefeitos que correm pela reeleição ou têm seus candidatos às sucessões, e que, por certo, serão fatores relevantes na sucessão estadual de 2026.

Nesse sentido, a caravana do Governador foi um desastre.

Não pelo pouco público presente, principalmente em Campos dos Goytacazes, maior colégio eleitoral da região, e um dos maiores do Estado.

Hoje em dia, os eventos presenciais perderam força, e podemos afirmar que importam mais as imagens capturadas, em ângulos favoráveis, edição de discursos, tudo para gerar conteúdo para as redes sociais, que multiplicam exponencialmente o alcance.

Ainda que a contabilidade de 100 a 150 pessoas nos eventos da Baixada Campista, incluindo aí a imprensa e a “corte” (comitiva de seguranças e assessores) possa ser preocupante, já que era esperado que os pré-candidatos a vereadores do grupo dos Bacellar ocorresse em massa aos locais da agenda governamental, esse detalhe pode ser superado com as mágicas digitais citadas acima.

O cerne da questão é outro.

Já não é segredo para ninguém que Castro aposta em Rodrigo Bacellar para a sua sucessão.

Uns dizem que é uma demonstração de força do deputado estadual, e é, mas também há outro aspecto: falta de opções.

O Governador Castro não tem muitas, assim como o Presidente da ALERJ.

O caminho do centro está ocupado, com Eduardo Paes, o da esquerda lhes é impossível, ainda mais quando estes dois setores, centro (e centro-direita) e esquerda parecem convergir no Estado, com Lula apostando suas fichas em Eduardo Paes.

Sobrou a extrema direita.

Parece que a única plataforma eleitoral viável para Castro e seu grupo reside no potencial capital eleitoral dos Bolsonaro no RJ, e todas as suas movimentações recentes demonstram essa opção.

Essa direção, no entanto, não parece tão simples de concretizar.

Como dissemos, uma campanha para sucessão estadual exige capilaridade, palanques municipais.

Na capital, Castro e Rodrigo não terão um, salvo se acontecer o impensável, e Eduardo Paes perder a reeleição, e/ou desistir de concorrer ao Governo do Estado, e mesmo assim, que essa decisão seja acompanhada de um apoio a Bacellar.

Atualmente, essas chances são quase as mesmas de ganhar na Mega Sena.

No interior, os problemas se multiplicam, desde a Baixada, onde a profusão de correntes em conflito torna qualquer apoio uma faca de dois gumes, passando pela região Metropolitana, onde Niterói não parece sintonizada com a gestão Castro/Rodrigo, indo até o Norte do Estado, onde a família Bacellar é antagonista principal do Prefeito Wladimir, com mais de 70% de aprovação, e virtual reeleito em primeiro turno.

O clima de tensão entre os Bacellar e os Garotinhos não é recente, e nem é o que podemos chamar de cordial, pelo menos quando observamos a “tática operacional” dos Bacellar, que diverge em muito do estilo adotado pelo Prefeito Wladimir.

Enquanto os Bacellar escolhem uma narrativa bélica, com direito às ofensas pessoais, como no caso do triste evento do caçula da família, o Presidente da Câmara Municipal, Marcos Bacellar, quando um convidado proferiu difamações contra a primeira-dama campista, e sua conduta não foi censurada, do lado garotista temos um estilo “low profile”, ou “soft power”, com palavras medidas e escolhidas, tudo dirigido a criar a imagem do grande articulador e agregador.

Os resultados até aqui parecem mostrar que a engenharia política dos Garotinhos tem dado mais certo.

Os Bacellar não têm candidato na cidade que vá disputar de verdade, encolheram sua base parlamentar local, e correm o risco de eleger poucos vereadores, encolhendo ainda mais.

Esse momento ruim não é só dos Bacellar, diga-se, mas é do próprio Governador, que desde a mais tenra hora, apesar de ter se aproximado do Prefeito Wladimir, com a alocação de investimentos significativos, é verdade, sempre deixou claro que Wladimir Garotinho não era a sua aposta para a sua sucessão.

Na cidade o Governador disse: “Caminhamos com quem caminha conosco”, e “Apoiarei quem Rodrigo apoiar”.

São frases impactantes, mas desprovidas de qualquer senso prático, afinal, como cobrar fidelidade de um prefeito, quando você, como Governador, traz uma caravana para que possa brilhar o principal adversário do chefe do executivo local?

Será que o Governador imaginou que “caminhar junto” seria Wladimir Garotinho abrir mão da campanha à reeleição e apoiar a candidata delegada?

Não seria ele, como governador, que deveria construir um amplo acordo, mantendo os Bacellar dentro dos limites, já que, como ficou comprovado, a candidatura dos Bacellar por aqui não fará cócegas no atual prefeito, e pior, nem todas as candidaturas juntas, colocadas com a missão de pulverizar votos, mas que só pulverizaram o cacife eleitoral os Bacellar?

Há muito tempo o Governador tem sinalizado que não queria Wladimir como seu companheiro de jornada.

Claro que isso move as pedras do lado antagônico, e neste caso, seria injusto exigir ao Prefeito Wladimir que esperasse sentado os efeitos de ser colocado em segundo plano, ainda mais quando ele conseguiu construir uma formidável coalizão de governo, que se espalha pela região, onde sua influência tem aumentado, fato reconhecido até pelas hostes bolsonaristas, as quais Castro e Bacellar contabilizam como apoio certo.

Esse reconhecimento da força regional de Wladimir provocou uma cisão no meio da extrema-direita, quando o filho primeiro do ex-presidente entregou o PL ao Prefeito Wladimir.

Não é pouca coisa.

Ao mesmo tempo, o mesmo Prefeito Wladimir Garotinho, incensado pelo clã Bolsonaro, recebe do Governo Federal vários acenos, sob forma de investimentos graúdos, como o PAC mobilidade.

Todos sabemos que as contingências políticas levam as conjunturas para esse ou para aquele lado, e nem sempre é possível controlar todas as variáveis.

Em certo momento, parece claro que Cláudio precisou de Rodrigo, tanto quanto ao contrário, é verdade.

Não é fácil cimentar uma base política sólida tendo chegado ao poder estadual depois de um impeachment, sendo um nome quase desconhecido no cenário estadual e nacional, requisitos exigidos para governar a caixa de ressonância política e cultural (para o bem ou para o mal) do Brasil, o Rio de Janeiro.

Rodrigo Bacellar foi o que Castro tinha à mão, e cada qual deles retribuiu o que lhe foi dado, com rusgas aqui e ali, como é normal nos relacionamentos dessa envergadura.

Por outro lado, parece que faltou a ambos a grandeza de olhar para além da necessidade individual de cada um, para que agissem em bloco.

Isso evitaria que Castro tivesse que optar por afastar Wladimir Garotinho, e agora, quando vai precisar, mais do que nunca, de apoios pelo interior, corre o risco de ficar falando sozinho.

Por sua vez, se olhasse o futuro de uma perspectiva estratégica, e não apenas no curto prazo, Rodrigo Bacellar nunca teria colocado suas idiossincrasias municipais como prioridade, e nunca deveria ter encurralado o Governador a ter que escolher, tipo, ou ele ou eu.

Não se faz política com sinal de menos, política se faz com sinal de mais.

É cedo para dizer que Cláudio Castro escolheu errado as companhias com quem vai caminhar, mas, no momento, parece que ele e seu grupo de caminhada se encaminham para um beco sem saída.