Em cenário marcado por fogo amigo e ausências de alguns dos principais articuladores do Palácio Guanabara, as eleições municipais trouxeram à tona fissuras na base do governador Cláudio Castro (PL), antecipando a disputa por sua cadeira em 2026. Castro passou a ser criticado abertamente por aliados do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União), cuja movimentação gerou desconforto no entorno do governador. Cotado para concorrer ao governo daqui a dois anos, Bacellar hoje rivaliza com caciques de partidos como PL, PP e MDB, que também buscam ganhar terreno nesta eleição antes da próxima disputa estadual.

Há duas semanas, parlamentares que compõem uma “tropa de choque” de Bacellar na Alerj emparedaram sete secretários de Castro em uma CPI que apura suposto descumprimento de regras de transparência na gestão estadual. Em meio a questionamentos, a sessão foi recheada de sugestões, por parte dos deputados, de demissão de secretários próximos a Castro.

Interlocutores de Castro enxergaram a CPI como um mecanismo de pressão de Bacellar por mais influência no governo. A convocação dos secretários ocorreu após a demissão do chefe da Polícia Civil, Marcus Amim, que tinha o apoio da cúpula da Alerj. Também avaliaram, por outro lado, que o Palácio Guanabara ficou fragilizado por faltar uma defesa firme à gestão na Assembleia.

Ausências em sessão

Duas ausências foram sentidas: a do líder do governo na Alerj, Dr. Serginho (PL), que estava em atividade de sua campanha à prefeitura de Cabo Frio; e a do secretário de Governo, André Moura, que tem dividido atenções entre o governo e a articulação da candidatura da filha, Yandra, à prefeitura de Aracaju (SE).

Dois aliados de Castro relataram ao GLOBO, sob reserva, que Moura vem se ausentando do papel de articulação política no Rio. Ex-deputado por Sergipe, ele tem passado os fins de semana em carreatas da filha e de outros aliados. Já a atuação de Serginho, mesmo antes da campanha, esbarrava na proximidade que Castro e Bacellar construíram desde o mandato anterior. Na prática, devido a essa relação, a agenda do governo costuma passar pelas mãos do presidente da Alerj.

Procurado pelo GLOBO, Dr. Serginho disse ter protocolado um ofício a Bacellar solicitando a “designação de outro líder (do governo) em decorrência da campanha eleitoral em Cabo Frio”. Ele segue, no entanto, formalmente no posto de líder. Moura não respondeu.

Durante a sessão da CPI da Transparência na Alerj, o deputado Thiago Rangel (PMB), aliado de Bacellar no Norte Fluminense, procurou defender a atuação do presidente da Casa diante da “insatisfação” com o governador.

Rangel negou que o presidente da Alerj esteja patrocinando um movimento pelo impeachment de Castro — que herdou a cadeira, em 2021, com a deposição de Wilson Witzel, em processo relatado por Bacellar. Rangel diz, porém, que há um ponto em que Bacellar “não consegue mais controlar” a base:

— Bacellar sempre esteve apagando o fogo de muitos de nós, parlamentares, que estamos insatisfeitos com o governo. Não posso permitir que se coloque na conta do Bacellar uma suposição, jamais ele colocaria gasolina no fogo.

Os movimentos de Bacellar de olho em 2026 miram em barrar avanços dos caciques do PP, Doutor Luizinho, e do MDB, Washington Reis. Ambos são próximos ao governador e vistos como possíveis concorrentes. Em Campos dos Goytacazes, reduto de Bacellar, Luizinho filiou ao PP o atual prefeito Wladimir Garotinho, adversário histórico do presidente da Alerj. A candidatura de Wladimir atraiu também o apoio do PL, partido de Castro, cujo presidente estadual, o deputado Altineu Côrtes, teve arestas com Bacellar no início do governo.

Em reação, Bacellar lançou uma delegada de polícia, Madeleine Dykeman (União) com apoio do PSD, do prefeito do Rio, Eduardo Paes — que vem rivalizando com Castro. A aliança foi acertada diretamente entre Paes e Bacellar.

Rompimento com Pampolha

Além de desagradar o presidente da Alerj, Castro rompeu com seu vice, Thiago Pampolha (MDB), que também tem se reposicionado de olho em 2026. Pampolha já participou de eventos de campanha ao lado de Paes e do deputado Pedro Paulo (PSD) e, em uma dessas ocasiões, ouviu o prefeito chamar o governador de “frouxo” a seu lado.

Em outra demonstração de desalinhamento entre Pampolha e Castro, o vice-governador nomeou em seu gabinete o ex-comandante dos Bombeiros, Leandro Monteiro, um dia depois de o governador demiti-lo da corporação. Na mesma semana, Castro tentou fazer um aceno a Pampolha ao chamá-lo para um evento no Guanabara, mas o vice não compareceu.

Pampolha também é visto como empecilho por Bacellar, já que assumirá a cadeira se Castro quiser concorrer a outro cargo em 2026. A saída ocorreria seis meses antes do fim do mandato. Neste caso, Pampolha só poderia disputar a reeleição a governador.

Fonte: O Globo