A combinação de fenômenos naturais e alterações nos padrões climáticos podem trazer desafios para toda a população brasileira este ano. O Metrópoles ouviu especialistas que explicam que os próximos meses devem ser marcados por altas temperaturas e mudança nos regimes de chuvas de algumas regiões, causados pelo fim da passagem do El Niño e começo da La Niña.
O ano passado foi marcado por extremos climáticos, causados principalmente devido à incidência do fenômeno climático natural El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Ao longo de 2023 o Brasil acompanhou uma seca histórica na região Norte e dezenas de inundações nos estados do Sul, além de outros desastres naturais.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), o El Niño deve durar até meados de abril deste ano, quando deve atingir o seu pico.
A previsão de meteorologistas é de que o segundo semestre de 2024 seja delimitado pela iminência da La Niña, responsável pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico. No Brasil, esse fenômeno climático resulta em chuvas intensas no Norte e Nordeste, além de calor e seca no Sul.
Francisco Aquino, chefe do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alerta que antes da transição do El Niño para La Niña o país passará por um período de neutralidade.
“A neutralidade significaria dizer que a gente teria chuvas mais regulares em temperaturas dentro da normalidade pro inverno no Brasil. Vamos dizer que na região Sul tem chuva e temperaturas amenas, enquanto teria a redução da precipitação entre o Centro-Oeste, o Pantanal, o sul da Amazônia”, afirma Francisco Aquino.
O professor da UFRGS esclarece, no entanto, que devido ao aumento das mudanças climáticas esse período de neutralidade talvez não esteja tão definido. O que pode causar uma alteração no índice de chuvas registradas no Brasil ao longo do ano.
“A expectativa de neutralidade pensando em Brasília, no Centro-Oeste do Brasil, seria ter temperaturas amenas para esta época do ano [inverno], como o esperado, e obviamente um período de estiagem típica, não uma estiagem severa como aconteceu nos últimos três, quatro anos”, complementa Francisco Aquino.
Os efeitos da La Niña no Brasil devem começar a ser sentidos no Brasil no começo da primavera, no final de setembro. Karina Lima, doutoranda em climatologia, esclarece que a tendência da La Niña é de seca no Sul e chuvas intensas no Norte.
Altas temperaturas
Um relatório divulgado pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, nessa terça-feira (9/1), revela que a temperatura de 2023 ficou 1°C acima do nível pré-industrial de 1850 a 1900. O documento acrescenta ainda que durante metade do ano passado as temperaturas ultrapassaram 1,5ºC.
“É importante ressaltar que independente do El Niño, o aquecimento global continua aumentando e sabemos que em um mundo mais quente, a tendência geral é de aumento de frequência e intensidade de eventos extremos”, destaca Karina Lima.
“É difícil prever com muita antecedência quando os eventos extremos ocorrerão e as consequências dos mesmos, visto que os desastres dependem não só da magnitude dos fenômenos, mas também do grau de vulnerabilidade local. E lidar com a não-linearidade das consequências das mudanças climáticas é um dos grandes desafios”, esclarece a doutoranda.
Fonte: Metrópoles