Nas democracias, o direito de reivindicação de direitos é princípio constitucional, garantindo a todos os cidadãos e cidadãs a possibilidade de organizarem-se em sindicatos, associações de moradores, entidades estudantis, entidades de classes, para que possam, através de representantes eleitos e legítimos, buscarem a satisfação das demandas coletivas.

Nesta seara sempre houve um grave risco ao exercício desses direitos, que acontece quando lideranças utilizam essas organizações e entidades, e suas pautas, para alavancarem carreiras políticas pessoais ou de terceiros.

É o chamado “aparelhamento”.

“Aparelhamento” é a mistura, é o uso indevido de organizações representativas à serviço de uma agenda eleitoral e partidária.

É submeter os interesses dessas categorias ao viés eleitoral, promovendo embates com o único objetivo de desgastar o adversário político.

Vejam bem, o afastamento do indesejável “aparelhamento” não quer dizer que as lideranças ou filiados a tais entidades tenham que abrir mão de seus direitos eleitorais, ou seja, cada um, de forma individual, pode e deve participar das eleições, seja como candidato, seja como militante desta ou daquela campanha ou partido.

Porém, o “aparelhamento” é inaceitável.

Em Campos dos Goytacazes, recentemente, com a aproximação da campanha eleitoral para sucessão municipal, começaram a surgir exemplos dessa prática nefasta e ilegal.

Foi assim que a presidenta do sindicato dos servidores municipais, hoje pretendente à candidatura à prefeita pelo PT de Campos dos Goytacazes, Elaine Leão, recentemente, mobilizou alguns gatos pingados, dentre estes a maioria de estudantes, todos em horário escolar, diga-se, e sem conhecimento de pais ou, queremos crer, dos administradores escolares.

A mobilização se concentrou em frente à sede administrativa da PMCG, cuja alegação de reivindicar melhorias nas relações de trabalho dos servidores não conseguiu disfarçar a vergonhosa manipulação eleitoreira que ali se dava.

Logo ela, que conseguiu o atendimento pelo Prefeito Wladimir Garotinho da maioria esmagadora dos pedidos feitos pela categoria, coisa que nem o Governo Federal fez, governo, diga-se, do partido ao qual a moça é filiada, e quer ser candidata.

Pois bem.

Hoje a cidade foi surpreendida pela manifestação de motociclistas, trabalhadores em entregas, cujo pedido seria a remoção da pintura da pista de rolagem da Ponte Barcelos Martins.

Não se julga a natureza do pedido, que em si contém vários erros, que não foram considerados, talvez na pressa para produção “de conteúdo” para usos eleitoreiros.

A manutenção do trânsito dos veículos ciclomotores no local foi medida alternativa e provisória do Poder Executivo, enquanto não se encontrava solução definitiva para a determinação no plano viário em andamento, que reservou a ponte para o trânsito exclusivo de ciclistas.

Logo, a retirada da tinta do pavimento traria prejuízo econômico duplo: apagar o que foi licitado, empenhado e pago, para depois, ter que refazer.

Alguns diriam que as vidas em risco não tem preço, é verdade.

Por isso mesmo, caberia às lideranças dos motociclistas trabalhadores a orientação aos seus filiados para que transitem em velocidade compatível com a via, que por sua vez é compartilhada com veículos mais lentos e frágeis, as bicicletas.

Isto é: a vida de todos merece cuidado, e tais conselhos seriam uma ótima ajuda aos sobrecarregados órgãos de fiscalização, que tentam colocar dentro da lei um sem número de condutores infratores, todos os dias.

Fica ainda a pergunta: será que TODOS os motociclistas que trafegam ali, com ou sem chuva, caem?

Certamente não.

Sabemos que a reivindicação e o barulho na ponte não tem outro objetivo senão criar prejuízos eleitorais à administração municipal, justamente a que atendeu parcialmente o pleito dos reivindicadores.

Caberá a prefeitura e seus gestores o bom senso de separar as pautas justas, daqueles que as manipulam de forma ilícita.

É aquele negócio, deu a mão, agora querem os braços e o resto do corpo.