Sete dias se passaram desde a histórica noite do dia 22 de março, quando uma forte chuva atingiu várias cidades do Sul do Espírito Santo, deixando ao menos 20 mortos, milhares de pessoas sem suas casas e um rastro de destruição.

Treze municípios da região foram afetados e estão em situação de emergência. Em todos, ainda é possível ver muita sujeira e lama pelas ruas. Em meio ao caos, moradores tentam, aos poucos, reconstruir e se reerguer com o pouco do que restou. E a previsão é de mais chuva. No estado, pode chover entre 20 e 30 milímetros por hora ou até 50 mm/dia, com ventos intensos entre 40 e 60 km/h.

Além de vidas perdidas na tragédia das chuvas, o prejuízo passa pela perda de casas, roupas, móveis e documentos. Muitas famílias perderam tudo e se viram sem ter para onde ir. A força da água quebrou portões de ferro, derrubou casas inteiras, cobriu imóveis, além de arrastar dezenas carros e até caminhão do Corpo de Bombeiros.

De acordo com o boletim extraordinário divulgado pela Defesa Civil do Espírito Santo às 11h deste sábado (30), o temporal deixou ao menos 20 pessoas mortas e duas desaparecidas. Os óbitos foram registrados em Mimoso do Sul (18 mortos) e Apiacá (2 mortos). Essas duas cidades, aliás, foram as mais atingidas pelo temporal.

Além de mortos e desaparecidos, 11.352 pessoas tiveram que deixar suas casas, sendo que 11.087 ainda estão desalojadas (foram para residência de familiares ou amigos) e outras 265 estão desabrigadas, isto é, perderam o imóvel e foram encaminhados a abrigos públicos no Espírito Santo.

As cidades em situação de emergência são: Alegre, Alfredo Chaves, Apiacá, Atílio Vivacqua, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Mimoso do Sul, Muniz Freire, Muqui, Rio Novo do Sul, São José do Calçado e Vargem Alta.

Pelas ruas das cidades, a cena mais comum é a de moradores tirando a sujeira das casas e colocando tudo na calçada ou na rua. Num primeiro momento, a ideia é organizar a situação.

Misturado com lama e sujeira, restaram apenas pedaços de móveis, alguns eletrodomésticos que não têm mais utilidade e roupas. Tudo virou entulho jogado nas ruas. Em Mimoso do Sul, não há previsão para término da limpeza.

Na cidade, comerciantes também contabilizam seus prejuízos enquanto fazem a limpeza dos estabelecimentos. A maioria estima perda total de mercadorias e equipamentos.

“O teto está caindo na nossa cabeça, não conseguimos tirar as coisas, não tem da onde tirar nada para recomeçar, não sobrou nada! Acabou tudo. Eu perdi minha farmácia, foram 15 anos perdidos, é desesperador. Olha essa cidade, a gente precisa de ajuda”, lamentou Maythê Bullos, proprietária de uma farmácia em Mimoso.

No comércio de Nivaldo da Silva, a fábrica de picolés e sorvetes é que teve a maior destruição. Ele estimou uma perda de 100 mil unidades.

“Olha a situação: perdi dois congeladores, maquinário, estoque, 50 sacos de açúcar, câmara fria, material pra fazer açaí, e os picolés… 100 mil picolés. Agora é esperar em Deus, nem sei o que fazer”, disse.

Nesta semana, Dinomar dos Anjos, proprietário de uma loja de roupas no centro de Mimoso, teve que contar com a ajuda de amigos e familiares para retirar as mercadorias perdidas em seu estabelecimento. Ele estima prejuízo de R$ 1,2 milhão.

Dinomar dos Anjos, proprietário de uma loja de roupas no centro de Mimoso do Sul, estima um prejuízo de R$ 1,2 milhão de prejuízo em mercadoria.

Surpreendendo quem passava pelo local, ele mantinha um sorriso no rosto, mesmo diante de tamanha tragédia, e enquanto fazia esse trabalho ainda mantinha a esperança de conseguir reverter a situação.

“Meu estoque todinho foi embora. Perdi todas as coisas da minha loja, mas fica a vida. Nós temos a vida, o sopro de vida, vamos lutar e conseguir de novo. Só falo para todo mundo: ‘Temos esperança, Deus no coração, e vamos todos trabalhar que vamos conseguir”‘, disse Nivaldo.

Em Apiacá, cidade vizinha de Mimoso do Sul, a situação não é diferente. Pelas ruas, a cena é de destruição e ainda muita lama. Enquanto tentam limpar as casas, do lado de fora ficam amontoados os restos de móveis, alguns eletrodomésticos e roupas sujas.

A limpeza no município ainda vai demorar. Serão pelo menos mais dez dias, segundo a prefeitura, que está ajudando a recolher os materiais com a ajuda de tratores e caminhões. Até homens do Exército, que foram enviados para as cidades, entraram nessa guerra de reconstrução.

Em Alegre, outra cidade atingida pela forte chuva, há muitos desabrigados e desalojados. Na cidade. veículos foram arrastados e agora as famílias também limpam o que sobrou dentro de casa.

Mutirão de limpeza

Em meio ao cenário de destruição, a solidariedade ganhou vez. No olhos dos moradores, mesmo uma semana depois de tudo, há um misto de tristeza e confusão na tentativa de assimilar tudo o que eles enfrentaram nesses últimos dias. Mas também há esperança de que vão conseguir se reerguer.

E o que une todas essas cidades e os moradores são a força para recomeçar, as doações que começaram a chegar um dia depois do desastre natural e o apoio de voluntários.

Mas depois de sete dias, a limpeza de alguns municípios, como Mimoso do Sul e Apiacá, continua sendo um desafio para que os moradores consigam retomar a rotina normal. Mutirões estão acontecendo ao longo desses dias.

Neste sábado, por ordem do governador Renato Casagrande, 80 alunos soldados da Polícia Militar do Espírito Santo forem deslocados de Vitória para Mimoso do Sul para ajudar na limpeza.

“São 80 alunos que farão a desobstrução da praça central e vias do entorno para melhorar o fluxo na cidade. Todo mundo portando enxada, vassouras, carrinhos… Vamos deixar essa rua limpa e em condições para que as pessoas circulem”, explicou coronel Fabrício, do 3º Comando de Polícia Ostensiva Regional. A expectativa é que os alunos e também 4 suboficiais fiquem até segunda-feira (1º) na cidade.

Uma das voluntárias responsáveis pela mobilização on-line foi Lara Fraga. Por meio de uma publicação nas redes sociais, ela convocou familiares e amigos para participarem da ação em Mimoso. A voluntária Nathalya Vitoriano veio da cidade de Muqui, localizada ao lado do município de Mimoso.

“A gente vem mesmo cansada e exausta emocionalmente, porque temos os nossos problemas também… Mas nessa hora a gente esquece de tudo”, disse.

Além dos voluntários, as ações de limpeza da cidade contam ainda com tropas do 38° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, localizado em Vila Velha, na Grande Vitíoria. Os militares atuam nas cidades desde segunda-feira (25), após pedido do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

Já a Marinha do Brasil cedeu um grupo com 83 fuzileiros (assista acima) para ajudar as comunidades mais afetadas, que está atuando em Mimoso do Sul e Apiacá desde quinta-feira (28).

O grupamento conta com 15 viaturas e as equipes já estavam trabalhando no desbloqueio de vias, transporte de suprimentos especiais, distribuição de água, e outras atividades desde quinta-feira.

Agradecimento à ajuda

A casa do pai do fisioterapeuta Alexandre Repinaldo foi invadida pela força da água. Todos os móveis e eletrodomésticos foram perdidos. Emocionado, o profissional disse que seria impossível fazer todo o trabalho sozinho. Ele mora em Mimoso do Sul.

“Eu agradeço do fundo meu coração. Fico até emocionado. A gente perdeu tudo”, desabafou.

A comerciante Maria Aparecida, que perdeu tudo, também não sabia como limpar a loja sozinha. No entanto, quando chegou ao local, havia pessoas esperando para ajudá-la.

“É muito gratificante porque, quando a chega, a gente acha que não vai ter como, que não vai ter solução. Mas eu sou uma mulher de muita fé. Eu creio que as coisas vão se ajeitar”, disse em lágrimas.

Doações de todos os lugares

Além da ajuda de voluntários, os capixabas fizeram uma corretente do bem com doações de todos os cantos do estado. São produtos como água, alimentos, roupas, colchões, itens de higiene pessoal e de limpeza. É a solidariedade entrando em campo como uma força a mais aos atigindos pela chuva.

Fonte: G1