Um mar de investimentos, serviços e postos de trabalho na região da Bacia de Campos, no Norte Fluminense, nos próximos cinco anos – revela matéria da Carta da Indústria da Firjan. Essa é previsão de estudos feitos pela federação, parceiros e empresas do mercado. O painel de Projetos de Energia do Rio de Janeiro, lançado pela Firjan durante a OTC Houston 2023, aponta US$ 22 bilhões em projetos no mar até 2028 inclusive. Só a Petrobras planeja investir US$ 18 bilhões na revitalização de campos maduros nos próximos cinco anos. Para isso, vai instalar cinco novas unidades FPSO e perfurar cerca de 150 novos poços até 2027, que irão possibilitar alcançar a marca de 900 mil barris de óleo por dia produzidos na região. Mas não para por aí. A direção da companhia anunciou, em julho, estudos para outras cinco novas plataformas a partir de 2028.
“Este ano, já foram entregues três plataformas e outras duas devem entrar em operação até dezembro. Destas unidades, duas serão destinadas à Bacia de Campos. Parte dos projetos são executados no exterior e parte no Brasil. O estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, está construindo três módulos da P-78 e outros seis do FPSO Tamandaré, que irão operar no estado. As duas últimas FPSOs a entrar em operação, em 2028, terão redução de 30% nas emissões de gás carbônico (CO2). E os novos contratos têm mais instrumentos para incentivar o uso do conteúdo local”, assegura Carlos Travassos, diretor de Engenharia,Tecnologia e Inovação da Petrobras.
Com essas encomendas, o Brasfels contratou 5.500 trabalhadores. A geração de mais de 17 mil postos de trabalho na cadeia produtiva do petróleo é uma previsão do Anuário do Petróleo no Rio 2023, lançado pela Firjan, em julho. O estudo destaca ainda a projeção de que a produção de petróleo no Rio de Janeiro possui potencial para alcançar 4,8 milhões de barris/dia no final desta década, aumentando a representatividade do estado, que hoje já é de cerca de 85% do volume nacional. E mais mão de obra será usada no desenvolvimento de novas áreas na Bacia de Campos, que deve superar os US$10 bilhões em investimentos, com destaque para o campo de gás, projeto BM-C-33, liderado pela Equinor.
“Existem ainda projetos para o desenvolvimento de parques eólicos offshore no Norte Fluminense, previstas para 2032 e 2033. Se considerarmos os projetos em terra, com o uso da energia produzida em mar, por exemplo, o total de investimentos aumenta para US$ 35 bilhões. Tudo isso vai levar recursos para os municípios, atrair novas oportunidades, fortalecer a economia da região e gerar empregos”, destaca Thiago Valejo, gerente de Projetos de Petróleo, Gás e Naval da Firjan.
Cadeia produtiva
As empresas do encadeamento produtivo, que fornecem bens e/ou prestam serviços para o mercado offshore, já vivem o reaquecimento de oportunidades, em Macaé e região, como em todo o estado. São novos pedidos de cotações e retomada das atividades, nos diversos segmentos, desde encomendas de equipamentos, partes e peças para serem utilizados direto no processo produtivo até itens de fornecimento indireto e não exclusivos do offshore, como itens acessórios e consumíveis.
“Estamos com expectativa de mais trabalho, com os investimentos anunciados pela Petrobras e outros atores para os próximos 5 anos. A principal demanda é o FPSO; a partir daí tem todas as cadeias abaixo. São contratos de longa duração de 15 a 20 anos. Tem empresas que atuam somente na aquisição de projeto, outras na parte de manutenção, reparo e operação (MRO)”, explica Rodrigo Almeida, gerente geral da Unidade Brasil da Polar Componentes.
Pesquisa feita pela Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Petróleo (Abespetro) mostra como o mercado de óleo e gás está aquecido. “Em 2022, 18% dos funcionários do setor mudaram de emprego. A demissão voluntária triplicou. São funcionários que ou foram para outro segmento ou buscaram oportunidades melhores dentro do setor de petróleo. Quem perdeu funcionários também está buscando qualificar”, informa Telmo Ghiorzi, secretário executivo da Abespetro e representante na Comissão Municipal da Firjan em Macaé.
Ghiorzi resalta que uma coisa é consequência da outra: “a busca por mais profissionais é decorrência de mais investimentos. Quando a Petrobras faz desinvestimento dos campos maduros, gera emprego através das outras empresas que vão pra lá”.
Para empresários com interesse em entrar no mercado offshore, é preciso se atentar aos requisitos de compra e às necessidades de capacitação da empresa, qualificação de pessoal e certificados exigidos. Uma iniciativa da Firjan SENAI SESI nesse sentido é o Programa Rede de Oportunidades Óleo, Gás e Naval, que apoia o desenvolvimento da indústria fornecedora e visa dar visibilidade às demandas desses mercados, promovendo conexão entre demandantes e fornecedores.
Descomissionamento
A demanda por descomissionamento é recente no Brasil e compreende a retirada de operação não só das plataformas, como o encerramento das atividades do poço e das linhas submarinas. É preciso certificação e atendimento às normas ambientais, além de enquadramento a critérios internacionais de destinação de resíduos. “Para o Rio de Janeiro, de 2023 até 2026, a ANP tem mapeado mais de R$ 24 bilhões em investimentos em descomissionamento na Bacia de Campos. As atividades incluem o abandono permanente da área, arrasamento de poço, desmobilização da plataforma, recuperação ambiental, remoção de linhas e remoção dos demais equipamentos do subsea”, explica Valejo.
“A Petrobras prevê investir US$ 9,8 bi em descomissionamento, sendo 78% na Bacia de Campos. Serão 26 plataformas e 360 poços. O descomissionamento tem sido feito em estaleiros internacionais de oito países, que atendem aos requisitos da Petrobras”, justifica Travassos.
Novas operadoras
Existe uma multiplicidade de empresas operadoras que atuam nas águas fluminenses da Bacia de Campos. Além da Petrobras, 3R e Trident, temos a Equinor, a PRIO e a Perenco, com produção em 2023. Existem outras ainda que detém blocos exploratórios como a Shell, BP, ExxonMobil, Repsol, Petronas, Chevron e TotalEnergies. E empresas que atuam em consórcio, como o caso das chinesas Sinochem e Sinopec, além da portuguesa Petrogal (Galp). Com isso, há muita demanda por mão de obra direta e indireta para execução de projetos. Mas a forma de contratação vai depender do tipo de atividade, além do modelo adotado pela plataforma, se por afretamento ou construção própria.